PROCESSO Nº: 0815048-02.2021.4.05.8100 - APELAÇÃO CÍVEL
APELANTE:
(...)
ADVOGADO:
(...)
APELADO: UNIÃO FEDERAL
RELATOR(A): Desembargador(a) Federal Fernando Braga Damasceno - 3ª Turma
JUIZ PROLATOR DA SENTENÇA (1° GRAU): Juiz(a) Federal Alcides Saldanha Lima
ADMINISTRATIVO. SERVIDOR PÚBLICO FEDERAL APOSENTADO. VANTAGEM. OPÇÃO. ARTIGO 2º DA LEI 8.911/97.
ARTIGO 193 DA
LEI 8.112/90. APOSENTADORIA EM 2021. IMPLEMENTAÇÃO DOS REQUISITOS PARA APOSENTAÇÃO POSTERIORMENTE À EC 20/98. DESCABIMENTO DA VANTAGEM. ADOÇÃO DO NOVO ENTENDIMENTO DO TCU ACERCA DO TEMA. POSSIBILIDADE.
1....« (+1628 PALAVRAS) »
... Trata-se de apelação interposta contra sentença que julgou improcedente o pedido formulado em ação movida por particular contra a União, buscando provimento judicial para anular os efeitos do Acórdão nº 1599/2019 do Tribunal de Contas da União e de todos os atos dele decorrentes e, assim, restituir o pagamento da vantagem "opção" de função/cargo comissionado dos seus proventos. 2. Na exordial, o demandante sustentou que: a) é Técnico Judiciário aposentado, integrante do Quadro de Pessoal da Justiça do Trabalho da 7ª Região (Ceará); b) Aposentou-se de forma voluntária, com proventos integrais e paridade plena, calculados com base na última remuneração do cargo em que se deu a aposentadoria, com fundamento no art. 3º da Emenda Constitucional 103/2019 c/c o art. 3º e parágrafo único da Emenda Constitucional n.º 47/2005, através do Ato do Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região, conforme despacho n.º 5936/2019 publicado no DJTe de 12 de Fevereiro de 2021, sem a opção correspondente ao cargo comissionado FC1, com base no Acórdão 1599/2019 do TCU; c) o Acórdão TCU n.º 1599/2019 não merece prosperar, especialmente porque, além de fundar-se em premissas equivocadas, viola o disposto nos artigos 23 e 24 da LINDB, na redação incluída pela Lei n.º 13.655/2018; d) a "opção" por percentual de função comissionada ou cargo em comissão, acrescida à remuneração o cargo efetivo, é paga ao servidor ativo por expressa previsão do art. 2º da Lei nº 8.911/94; e) O art. 193 da Lei 8.112/90 autorizava seu o pagamento na inatividade, caso o servidor tivesse exercido FC/CJ por cinco anos consecutivos ou dez interpolados, sem necessidade de preenchimento dos requisitos para aposentadoria; f) O art. 193, todavia, foi revogado pela Medida Provisória nº 831, de 1995, sucessivamente reeditada até sua conversão na Lei nº 9.527 de 1997, extinguindo a possibilidade de incorporação da vantagem aos proventos; g) Ocorre que, pelo Acórdão nº 2.076/2005 - Plenário, o TCU reconheceu haver adquirido o direito à vantagem pelos servidores que até 19.01.1995 houvessem satisfeito as exigências nele postas (tempo de exercício de função ou cargo em comissão), ainda que não reunisse condições imediatas para aposentadoria; h) O TCU deu pela inconstitucionalidade do art. 7º da Lei 9.624/98, por condicionar o direito dos que preencheram os requisitos do art. 193 da Lei 8.112/90 até a data de sua revogação, à exigência - inexistente no dispositivo revogado - de preenchimento simultâneo dos requisitos para aposentadoria; i) Com base nessa orientação, todos os servidores que haviam preenchido os requisitos do art. 193 da Lei 8.112/90 até 18.01.1995, data de sua revogação, passaram a carrear aos proventos a "opção", independentemente do momento em que implementassem as condições para aposentadoria; j) O entendimento firmado no Acórdão 2076/2005 do TCU prevaleceu por mais de 14 anos, sendo reafirmado em diversas ocasiões, como no Acórdão nº 1.277/08-TCU-Plenário, o que fez com que Tribunais de todo o país, inclusive o TRT da 7ª Região, reconhecessem o direito ao pagamento da "opção" de função comissionada nos proventos de aposentadoria de seus servidores, como no caso do Autor; k) adotando fundamentação contraditória à anteriormente firmada, e sem qualquer menção à reconhecida inconstitucionalidade do art. 7º da Lei nº 9.624/98, em 10.07.2019, o TCU reviu seu entendimento; l) Pelo Acórdão nº 1.599/2019 - Plenário, em análise de caso específico, o TCU passou a dizer que os servidores que não se encontravam em condições de se aposentar quando da revogação do art. 193 da Lei 8112/90 não podem se beneficiar dessa vantagem; m) Com a prolação do Acórdão TCU nº 1.599/2019, a partir de julho de 2019 todos os atos individuais de concessão aposentadoria com inclusão da vantagem "opção" do art. 193 da Lei 8.112/1990 passaram a ser considerados ilegais, independentemente da data da prolação do ato ou de estar de acordo com orientação do próprio Tribunal de Contas da União à época; n) ao julgar a legalidade do ato de aposentadoria, o TCU adotou nova orientação, firmada em 10 de julho de 2019 no Acórdão n.º 1.599/2019, no qual cunhou o entendimento de que é vedado o pagamento das vantagens oriundas do art. 193 da Lei n.º 8.112/1990, inclusive o pagamento parcial da remuneração do cargo em comissão ("opção"), aos servidores que implementaram os requisitos de aposentadoria após 16/12/1998; o) o Acórdão TCU afronta o art. 23 da LINDB, incluído pela Lei n.º 13.655/2018. Ainda que se entendesse possível invalidar os atos praticados na vigência da anterior orientação geral, não seria admissível fazê-lo senão respeitando regime de transição para aplicação da nova interpretação, nos exatos termos do art. 23 da LINDB; p) os arts. 23 e 24 da LINDB não tratam de revisão de ato administrativo, mas de mudança na interpretação, de orientação do Órgão, remetendo ao velho aforisma do tempus regit actum. A licitiude ou ilicitude, o respeito aos efeitos jurídicos de certa conduta devem ser aferidos a partir da norma (no caso, orientação geral) vigente no momento de sua prática; q) o novo entendimento firmado no Acórdão TCU, ao determinar a redução de proventos do servidor aposentado, alterando orientação sedimentada há mais 14 anos pelo próprio TCU, ofende as mais caras garantias da segurança jurídica, proteção à confiança dos administrativos e isonomia, e viola frontalmente o disposto no art. 24 da LINDB (incluído pela Lei n.º 13.655, de 2018); r) não houve incremento remuneratório, superior à última remuneração da ativa, haja vista que o autor há muito percebia a chamada "opção" na ativa, conforme se verifica de suas fichas financeiras. 3. Na sentença, o juízo de origem pontuou: a) A ação foi ajuizada com o objetivo de incluir, na aposentadoria da autora, o valor correspondente à vantagem decorrente da opção prevista no art. 2º da Lei 8.911/94, ao argumento de que, até 18 de janeiro de 1995, satisfez os pressupostos temporais estabelecidos no artigo 193 da Lei 8.112/90, ainda que sem os requisitos para aposentação, só preenchidos posteriormente; b) No caso, a parte autora obteve sua aposentadoria em 12.2., no cargo de Técnico Judiciário do TRT7, de acordo com o artigo 3.º da EC 47/05 c/c artigo 7 da EC 41/03, com proventos integrais calculados pela última remuneração, mas sem o acréscimo da vantagem da "opção" do artigo 193, excluída dos seus proventos com amparo no Acórdão TCU 1.599/2019 - Plenário, porquanto não preencheu os requisitos para aposentação antes da edição da EC 20/98, em 16.12.1998; c) O ato de aposentadoria somente passa a estar plenamente formado, válido e eficaz quando recebe o registro pela Corte de Contas, de forma que não há se falar em direito adquirido antes que o ato complexo esteja definitivamente registrado pela Corte de Contas. No caso, inexistiu a alegada retroação dos efeitos da nova interpretação para atingir situação consolidada no tempo. A conclusão do ato de aposentadoria, por ser complexo, só se deu em 2021, com o exercício do controle de legalidade pelo TCU, ocasião em que o entendimento daquela Corte já se havia se firmado nos termos do Acórdão 1.599/2019 - TCU. Assim, inexistiu situação consolidada, pois o ato administrativo ainda não se havia completado; d) Não se constata ofensa ao princípio da segurança jurídica em razão da aplicação do novo entendimento do TCU, uma vez que, no caso, a servidora detinha apenas uma expectativa de direito, baseada em entendimento anterior do TCU (Acórdão 2.076/2005 - Plenário), no sentido de que seria assegurada na aposentadoria a vantagem decorrente da opção, prevista no artigo 2.º da Lei n.º 8.911/94, aos servidores que, até a data de 18 de janeiro de 1995, tivessem satisfeito os pressupostos temporais estabelecidos no artigo 193 da Lei n.º 8.112/90, ainda que sem os requisitos para aposentação em qualquer modalidade.; e) Não há que se falar em hipótese direito adquirido, pois, ao conceder a aposentadoria do autor, o TRT7 adotou o novo posicionamento da Corte de Contas, que incluiu no benefício do artigo 193 do RJU apenas as situações jurídicas constituídas antes da edição EC 20/98, em 16.12.1998, não sendo esse o caso do servidor, que, nessa data, ainda não preenchia todos os requisitos para sua aposentação; f) No tocante aos artigos 23 e 24, incluídos na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro pela Lei nº 13.655/2018, a mudança interpretativa de decisão administrativa deve ser aplicada apenas de modo posterior ao apontado momento ou diante de previsão de regime de transição, o que não se verificou na espécie. No caso, a nova interpretação não se deu sobre "norma de conteúdo indeterminado", uma vez que a lei que permitia acumulação da "opção função" foi revogada; acrescenta-se que não se trata de revisão de ato "cuja produção já houver se completado", uma vez que a concessão de aposentadoria é ato complexo, que somente se aperfeiçoa pelo julgamento do TCU. Somado a esses argumentos, observa-se que a aposentadoria do autor foi publicada em 2021, quando já havia sido revogado o artigo 193 da Lei 8.112/90 pela Lei 9.527/97, de maneira que o caso não trata de aplicação dos artigos. 23 e 24, incluídos na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro pela Lei nº 13.655/2018. 4. A sentença recorrida deve ser mantida pelos seus próprios fundamentos, tendo em vista está em consonância com o entendimento adotado por esta Terceira Turma em casos semelhantes, como se verifica dos seguintes julgados: PROCESSO: 08112151920204058000, APELAÇÃO CÍVEL, DESEMBARGADOR FEDERAL ARNALDO PEREIRA DE ANDRADE SEGUNDO (CONVOCADO), 3ª TURMA, JULGAMENTO: 05/05/2022; PROCESSO: 08081014520204058300, APELAÇÃO CÍVEL, DESEMBARGADOR FEDERAL LEONARDO AUGUSTO NUNES COUTINHO, 3ª TURMA, JULGAMENTO: 16/12/2021.
5. No mesmo sentido, citam-se os seguintes julgados deste Regional: PROCESSO: 08143253320214050000, AGRAVO DE INSTRUMENTO, DESEMBARGADOR FEDERAL PAULO ROBERTO DE OLIVEIRA LIMA, 2ª TURMA, JULGAMENTO: 17/05/2022; PROCESSO: 08158337720204058300, APELAÇÃO CÍVEL, DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO ROBERTO MACHADO, 1ª TURMA, JULGAMENTO: 10/06/2021.
6. Apelação improvida. Majoração dos honorários de 10% para 11% sobre o valor da causa (R$ 80.000,00), com base no
art. 85,
§11, do
CPC.
(TRF-5, PROCESSO: 08150480220214058100, APELAÇÃO CÍVEL, DESEMBARGADOR FEDERAL FERNANDO BRAGA DAMASCENO, 3ª TURMA, JULGAMENTO: 15/12/2022)